“Eu realmente sinto que às vezes tenho o peso do mundo sobre meus ombros. Eu sei que eu ignoro e faço parecer que a pressão não me afeta, mas às vezes é difícil”. Esse foi o desabafo da ginasta americana Simone Biles em uma rede social.
Na última terça-feira, 27, a jovem de apenas 24 anos virou notícia no mundo inteiro por desistir de disputar a final individual de ginástica artística nas Olimpíadas de Tóquio, mesmo sendo favorita ao ouro. O motivo? Afirmou que precisava preservar sua saúde mental.
Claro que, diante do favoritismo de Biles que é quatro vezes medalhista de ouro nas Olimpíadas, sua desistência gerou um certo pesar. Contudo, por outro lado, o ato da americana é uma clara lição de liderança. É preciso cuidar da saúde mental, afinal somos humanos! O episódio deixou bem claro que, às vezes, é preciso recuar para avançar. E se não puder fazer bem, recue. Isso vale para todos, em qualquer hierarquia.
A pressão descrita pela atleta não existe apenas no esporte ou em competições do gênero. Nós como gestores não podemos perder nunca de vista que os nossos colaboradores, por melhores que sejam, por mais resultados que entreguem, por mais rápidos e pró-ativos que sejam, são, ainda assim, humanos.
Temos visto cada vez mais empresas e organizações se preocupando com a saúde mental e as emoções de seus colaboradores e eu corroboro inteiramente com essa iniciativa. Ser líder, um verdadeiro líder, é também estar atento à funcionalidade do seu time e saber gerenciar as necessidades internas para a saúde do nosso ecossistema.
É uma tendência natural nos preocuparmos em atender à expectativa de outras pessoas, incluindo, claro, a dos superiores e é aqui o ponto mais importante, na minha opinião. É indispensável agir com sensibilidade e ter um olhar mais atento para não exercer cobranças excessivas sobre um colaborador.
Se o discurso pelo viés da saúde não convence a muitos, vamos olhar pelo lado financeiro e administrativo: nada vale mais do que a saúde e o bem estar. Uma pessoa doente tampouco é interessante para uma empresa, haja vista os atestados médicos que, com razão, ela apresentará. Além disso, estamos falando de alguém que não está 100% em sua produtividade e esse estresse físico versus mental vai gerar uma conta a ser paga lá na frente.
Gerir uma equipe significa também fazer a gestão de riscos e muitos de nossos colaboradores estão à beira do esgotamento ou já passaram do limite. Esconder e fingir que isso não está acontecendo não é a solução.
Voltando ao caso de Biles, a decisão e o posicionamento da jovem evidencia o que qualquer grande líder, com a consciência de que é um ser humano, deve fazer quando não se sente em condições de executar o trabalho. Cuidar-se! Não só a si, mas aos seus também. Saber se reconhecer e reconhecer os outros para avançar. Isso gera abertura, entendimento, valoriza a equipe e promove o bem comum.
Adm. Mauro Kreuz
Presidente do Conselho Federal de Administração