Erros ao contratar podem prejudicar a equipe que fica, causar insatisfação de clientes e até danos à reputação da empresa
Por Leon Santos
Vez ou outra, as demissões são cenas relativamente comuns nas organizações. Embora cada uma delas tenha sua própria história, existem sintomas que levam à rotatividade ou turnover acima do normal, que são as contratações equivocadas.
Seja proprietário de uma empresa, gestor ou colaborador, quem nunca percebeu que a instituição se equivocou na contratação de uma pessoa com perfil errado para determinado cargo? E o que fazer diante de tal cenário?
Para o doutor em administração e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Victor Paradela, nesse momento convém reavaliar todo o processo de seleção, a fim de verificar se houve algum erro, ou mesmo se algo passou despercebido, e para gerar conhecimento a ser utilizado em futuros recrutamentos. Ele destaca que nas empresas em que os índices de rotatividade são altos, no mesmo ano de contratação, dois dos principais erros estão em desconsiderar o perfil motivacional e o fit cultural (também chamado de cultural fit).
Paradela explica que toda contratação deve ser avaliada sob três aspectos fundamentais. O primeiro é a qualificação do candidato, com análise detalhada sobre as competências alegadas; entre elas conhecimento, habilidades práticas e comportamentais.
O segundo fator é o perfil motivacional do indivíduo, ou seja, o potencial que ele possui para se sentir motivado ao realizar tarefas que lhe serão atribuídas. Já o terceiro aspecto é o fit cultural — aderência entre a cultura do candidato e a da empresa — elemento que pode definir o futuro do postulante à vaga na organização.
“A realização de entrevistas comportamentais e, quando possível, a aplicação de dinâmicas de grupo virá ao encontro de dois aspectos listados: o perfil motivacional e o fit cultural — sendo o segundo fator mensurado por testes de perfil, incluindo aplicativos disponibilizados por plataformas especializadas, as chamadas HR-Techs. Por fim, uma entrevista técnica com a participação direta do futuro supervisor é indispensável, podendo ser realizada junto com a de caráter comportamental ou não”, explica Paradela.
Erros e acertos
Para o também administrador e mestre em administração, Pedro Carbone, o erro mais comum que ele observa nos processos seletivos é não criar uma adequada descrição do cargo. Nesse quesito, ele destaca a pobreza sobre o detalhamento das habilidades desejadas, a senioridade requisitada — ou tempo de experiência na função — e formações como escolaridade, treinamentos e cursos necessários ao desempenho das funções.
Carbone alerta que contratar pessoas que não detenham o perfil comportamental ou técnico exigido para o cargo expõe a empresa, junto a clientes e público externo, bem como traz transtornos aos colegas de trabalho. O administrador e autor do livro “Gestão por Competências e Gestão de Conhecimento” ressalta que sai caro contratar errado e diz que é possível estimar o custo que o colaborador deixa na organização nos primeiros meses de trabalho.
Segundo Carbone, para avaliar se a contratação valeu a pena ou não, são avaliados quatro fatores: 1) o custo do processo seletivo; 2) o custo de integração e treinamento; 3) a perda média de produtividade e 4) o custo de desligamentos e eventuais processos trabalhistas.
“Além desses itens há outro ainda mais completo de mensurar que é a perda de reputação da empresa. Ela pode ser traduzida pela insatisfação dos clientes — sem esquecer a perda de energia dos próprios colegas de trabalho, que deixaram de fazer suas atividades para ajudar um funcionário que terá seu contrato interrompido rapidamente por falta de perfil adequado”, avalia.
Clique, aqui, e leia o restante desta entrevista.