Passe de profissionais resilientes está cada vez mais valorizado no mercado de trabalho. Na crise, a resiliência é condição essencial
Em meio a essa pandemia do coronavírus, você certamente ouviu algum especialista falando sobre resiliência. Nas lives que o Conselho Federal de Administração (CFA) tem realizado, por exemplo, a maioria dos administradores mencionou essa palavra. Mas, afinal, o que ela quer dizer e por que ela tem sido usada e citada neste contexto de crise mundial?
A resiliência é um conceito que nasceu na física. Um dos primeiros a usar o termo foi o cientista inglês Thomas Young, em 1807, quando ele estudava relação entre a tensão e a deformação de barras metálicas. Na ciência física, portanto, a resiliência é a capacidade que um material tem de voltar para seu estado normal após ser tensionado.
Mas o que isso tem a ver com o comportamento humano? Tudo! Para a psicóloga Aline Guarienti, a resiliência é a capacidade que o indivíduo tem de sobreviver diante de situações adversas. “Em situações que nos tornam vulneráveis – estresse ou crise por exemplo-, a pessoa resiliente é capaz de usar seus próprios recursos para enfrentá-las, se adaptar e superá-las”, explica.
Não é à toa, portanto, que a resiliência é uma das soft skills – termo usado para definir habilidades comportamentais – mais valorizadas no mercado de trabalho. O vice-diretor de Administração e Finanças do Conselho Regional de Administração de Goiás (CRA-GO), Valdinei Valério, lembra uma conversa que teve com a empresária Luíza Helena Trajano. Na ocasião, ela falou que contratava pessoas por conhecimentos técnicos. Porém, 95% desses profissionais eram desligados da empresa em um curto tempo por falhas e falta de um comportamento adequado.
Por isso, a líder da rede Magazine Luíza passou a contratar por habilidades e competências comportamentais. “Eles mudaram a forma de buscar profissionais no mercado e aí está uma razão fundamental pelo qual a resiliência é importante, pois o mercado já não contrata mais somente por habilidades técnicas”, disse.
Ser ou não ser
Será que eu sou uma pessoa resiliente? Aline explica que a resiliência emocional e física é algo inato. Ou seja, nasce com a pessoa. “Por natureza, alguns indivíduos se mostram menos incomodados quando existe a necessidade de mudanças e são capazes de lidar melhor com as ‘pancadas’”, comenta Aline.
Mas, calma! A psicóloga adianta que é possível, sim, construir essa habilidade. “Algumas pessoas conseguem desenvolver a resiliência tendo como referência com alguém próximo que tem essa qualidade. Já outras desenvolvem enfrentando os problemas e dando o melhor de si quando se trata de resolvê-los”, explica.
Para os profissionais de administração, a resiliência é uma competência fundamental. “Ele tem que desenvolver essa habilidade porque, sobretudo, este profissional lida com pessoas e problemas o tempo todo e a resiliência é necessária para tomar as melhores decisões. Para esses profissionais, meu conselho é: busquem orientação e conhecimento. Mais do que buscar, exercitem todas as técnicas que podem levar ao desenvolvimento desta habilidade.”, recomenda o administrador Valdinei.
Contudo, é preciso ter cuidado com excesso. Ser muito resiliente no trabalho pode ter o efeito contrário: a pessoa fica muito resistente a ponto de ficar insensível e não perceber relações abusivas no ambiente de trabalho. Aline conta que, como tudo na vida, a resiliência também tem o seu lado ruim. “Tudo deve ser dosado com equilíbrio. O mais importante é você saber quando sua resiliência pode estar afetando de modo negativo suas relações que podem levar até síndromes mais agudas com relação a poder e aceitação, e o que era para ser uma defesa acaba se tornando uma doença”, alerta a psicóloga.
Para superar a crise
A crise não é novidade no Brasil. O país vive altos e baixos na política e economia há alguns anos. Contudo, o momento atual é diferente, pois a crise agora é mundial. Para os empreendedores, a situação tem exigido criatividade para permanecer no mercado. Segundo Valdinei, nessa crise a resiliência é condição sine qua non da permanência como profissional ou como empresa.
“Essa pandemia vai separar os resilientes dos não resilientes. Aqueles que têm a capacidade de sobreviver e se adaptar profissionalmente. Esse é um momento em que a resiliência se torna o principal instrumento de permanência, de novas conquistas e de adaptação. Não há outra coisa.”, defende o administrador.
Ana Graciele Gonçalves
Assessoria de Comunicação CFA